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Foto do escritorGabriel de Nani

O berço da violência


Gabriela Anelli foi mais uma vítima da violência no futebol (Reprodução: redes sociais)



São Paulo acordou mais cinza, a cidade que não dorme fez mais uma vítima da violência no futebol. Vestida de verde e branco, uma jovem torcedora do Palmeiras de somente 23 anos foi atingida e faleceu devido uma garrafa lançada no ar pela torcida rival da partida.


Esse é mais um dos episódios de agressões e que estão escalando cada dia mais dentro do nosso futebol e da nossa sociedade. E olha, dias como hoje, me fazem ficar completamente desanimado para o rumo que estamos levando nosso esporte.


A violência dos estádios é discutida a cada caso, pedidos da imprensa de basta são ouvidos a todo momento, jogadores também fazem coro, as torcidas organizadas e os clubes se comovem. Mas afinal de quem é a culpa disso tudo? Na hora que as tragédias acontecem, todos se unem, mas é na hora de relativizar que as maiores fatalidades acontecem.



A torcida única e suas implicações


Se você está na faixa dos 15/25 anos, queria propor uma questão: quando você olha jogos antigos e clássicos, consegue perceber que a divisão dos estádios nos 80/90 era de 50% para cada torcida. Hoje em dia, é possível imaginar um cenário parecido?


Para ser bem sincero, pensar nisso chega a ser bem assustador pra mim. É como se a sensação de insegurança fosse cada dia maior, em um mundo que evoluiu tanto e de várias formas, nós andamos para trás nesse assunto!


A torcida única em clássicos foi imposta em São Paulo em 2016 após um conflito entre torcedores de Palmeiras x Corinthians. As mortes continuaram a acontecer, as tragédias aumentaram, no que essa medida melhorou a vida das pessoas?


Na verdade, isso melhorou a vida das autoridades que deixaram de se preocupar com o mínimo: a organização desses eventos.


Os clubes também têm culpa no cartório, ficou cômodo também não lidar com rivais nos estádios provocando seu time em caso de derrota.


Mas esses efeitos são muito nocivos no âmbito social, cada dia mais a visão do diferente e do rival começou a estar em um local de desumanização, de não presença.


Agora, a discussão partirá para a torcida única em clássicos nacionais, depois, a discussão partirá para torcida única em todos os estádios. Até chegarmos no ponto final onde não haverá mais torcidas visitantes em lugar nenhum. Privando o direito de ir e vir do país inteiro.



A tragédia não começou agora


Quem ganha com tanta polarização? Estamos em um país que passou por um processo de divisão gravíssimo e a Internet é parte importante para a análise.


Vivemos cada dia mais em bolhas, o torcedor só vê e procura contextos que beneficiam sua narrativa com influenciadores do time que torcem. Essa estrutura de opinião jornalística está espalhada no grupo do Facebook, do WhatsApp, no Instagram e Twitter.


Notem, o comportamento raivoso é como uma lei para que o vídeo tenha mais engajamento e chegue em mais pessoas. A raiva e ódio cada dia mais rentáveis!


E esses comportamentos ganham cada dia mais espaço na imprensa dita "tradicional". Se a Internet está engolindo a audiência da TV, vamos surfar nesse momento e termos nossos torcedores raivosos, nossos jogadores sem filtro gritando na hora do almoço. Assim, é possível gerar um exército pronto para agredir jogadores, engajar nas postagens e ainda zoar os amigos no grupo do futebol.



Notas de luto não suficientes


Os clubes devem fazer uma autocrítica sobre como andam abordando as relações entre rivais. Além das declarações mesquinhas e vexatórias, onde estão as atitudes CONCRETAS para a segurança de sua torcida?


Serão feitas mudanças estruturais de conscientização sobre o tema? As provocações baratas serão colocadas de lado para que haja verdadeiramente um esforço institucional de mudança? A CBF irá sentar na mesa e debater verdadeiramente o problema, além de criminalizar as torcidas e as pessoas?


Infelizmente, essas perguntas não terão respostas e o pior de tudo: nada disso fará Gabriela Anelli voltar.



*As opiniões aqui emitidas são de total responsabilidade dos seus autores, e não necessariamente refletem a opinião do Dimensão Esportiva.











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