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joaobosconeto2005

OPINIÃO: A Odisseia dos Tontos


Reprodução: @ChelseaFC

Quando Roman Abramovich foi forçado a vender o Chelsea, em detrimento a guerra da Rússia, inúmeros compradores se apresentaram, porém, o "vencedor da corrida" foi o consórcio BlueCo., liderado por Todd Boehly - um bilionário americano que gostou dos holofotes do esporte, bem ao estilo Mark Cuban.


Desejo antigo de Boehly, após anos sendo recusado por Abramovich, finalmente dirigia o clube dos seus sonhos. Um case de sucesso pronto e bem montado, com bom elenco e excelente base, coisas que o novo dono decidiu jogar abaixo assim que chegou, iniciando uma reformulação total e desnecessária no elenco.


Na primeira temporada completa, uma bagunça total e generalizada - 12º lugar na liga, três técnicos e, uma janela absurdamente cara em janeiro. Três treinadores em uma temporada, todos sem respaldo da diretoria, sem peças de seu gosto e sofrendo com as loucuras dos novos donos em encher o time de garotos.


A grande questão é a seguinte: o Chelsea conseguiu inflacionar o mercado, aumentar ainda mais a supervalorização e a gastança desenfreada que é a Premier League e, mesmo assim estagnou com um time ruim e sem padrão algum.


Football not is soccer é diferente da NBA, NFL, MLB - dar contratos longos e caros para jogadores jovens é um negócio muito arriscado. Um vínculo milionário de oito anos é ruim para ambas as partes e por vários motivos. Do lado do ativo: doar boa parte dos seus anos, de bom futebol a uma equipe que é incerta e, em caso de ir mal, ter uma multa tão alta que ninguém seria capaz de pagar.


Para o lado do clube: a desvalorização pode ser um problema. E se o jogador não chegar ao valor que nele foi investido? E se o time implodir? E se pagar toneladas de Euros em garotos de SUB-23 for uma má ideia? E se a necessidade de experiência bater e o fair play financeiro do clube estiver comprometido com 30 jovens que não se sustentam sozinhos?


Todas essas são questões válidas e que parecem não ter passado pela mente de Todd quando ele decidiu transformar os blues em um grande Oklahoma City Thunder.


Mesmo com todos os jovens possíveis e uma enorme briga com o Liverpool por Moisés Caicedo, o Chelsea é incapaz de sair do lugar. Continua no meio de tabela, tendo dificuldades para pontuar, não consegue ser protagonista em suas partidas e joga mal.


A escolha do técnico também me pareceu errada. Mauricio Pochettino é um grande treinador, mas, a sua última experiência com times de elencos muito caros foi péssima e, a situação no clube britânico está bem similar, só que com a gigantesca diferença de que, a Premier League é 10 vezes mais competitiva que a Ligue One.


O empate - que classifico como vergonhoso - contra o Arsenal, dado o contexto do jogo, não só ilustra o tamanho da bagunça que é o Chelsea. Um 2 a 0 seguro, em uma das melhores partidas do time no ano e tudo isso foi por água abaixo em um intervalo de sete minutos, mostrando que além da deficiência coletiva e tática, a inexperiência também cobra um preço altíssimo.


O elenco é tecnicamente muito bom e bastante promissor, entretanto, o conjunto desastroso que vêm se mostrando pode não só acabar com a carreira desses meninos, mas também jogar uma década inteira de Chelsea pela janela.


Como canta Bell Marques: "Uma andorinha só não faz verão" e não será apenas Thiago Silva que sustentará todo o barco londrino, precisando de um elenco mais equilibrado e sem ter de onde burlar o fair play para fazer isso.


O jovem senegalês Nicolas Jackson vem sofrendo inúmeras criticas pelo seu nervosismo e alto número de cartões amarelos. Um garoto de 23 anos, que tem como maior função liderar um ataque que, desde Didier Drogba, não é produtivo e ainda não tem um mentor ou peças de suporte ao seu lado. É complicado lidar com essa exigência.


O mesmo vale para Mykhailo Mudryk, ucraniano que se destacou pelo Shaktar, foi alvo de disputa entre Arsenal e Chelsea, foi para o lado azul e sofre com a pressão de ser o "10 do time", o expoente técnico máximo do ataque na cabeça da mídia e as inevitáveis comparações com Andriy Shevchenko. Todo o valor investido, somado a pressão jogada em cima dele fizeram a expectativa ser antagônica à realidade. Mudryk está longe de ser mal jogador, mas foi alçado a um patamar que não estava pronto e, seus oito anos de vinculo com o Chelsea podem prejudicar mais ainda seu desenvolvimento.


É claro que existem exceções, como Enzo Fernandéz e Moisés Caicedo. O primeiro é simplesmente um fenômeno; o segundo - mesmo com 21 anos - tem muita rodagem em Libertadores e Premier League, ajudando no rápido desenvolvimento de ambas as peças.


A unidade do Chelsea é boa, mas o conjunto da obra não. A maneira americana de gerir esportes se mostra mais uma vez prejudicial ao esporte, ao clube e aos jogadores. Infelizmente, muita coisa na equipe de Londres é um caminho sem volta e pode custar o futuro da equipe.


Dinheiro é bom, mas não compra competência e o modelo americano de esportes muitas vezes não se aplica no futebol. A ausência de peças prontas, campanhas em meio de tabela, contratos longos e não participações em competições internacionais, não te trazem uma boa pick de draft e sim, dívidas e problemas futuros.


As apostas arriscadas do Chelsea começaram com o pé esquerdo e, resta a torcida apoiar, aos jogadores se adaptarem e aos donos, entenderem que futebol - ainda mais na liga mais competitiva do mundo - é presente e futuro, experiência e juventude e não um conjunto de garotos que podem dar frutos daqui 6 anos.



*As opiniões expressas aqui são de total responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a opinião do Dimensão Esportiva.

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