Estamos a uma semana dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile, e será a primeira vez, em 28 anos, que a competição não será transmitida em TV aberta no Brasil; o Pan aqui será exclusivo da Internet, com a parceria Cazé TV/Comitê Olímpico do Brasil.
E muitos de nós elegemos a grande responsável por essa falta de interesse do público geral e da mídia tradicional com o Pan: a Record TV. E eu vou tentar explicar neste texto o porque.
Em 2008, a ainda chamada Rede Record gastou 60 milhões de dólares pelos direitos exclusivos dos Jogos Olímpicos de Londres/2012 em TV aberta, um fato que virou o mercado de cabeça pra baixo, afinal a Globo não iria exibir uma Olimpíada depois de muito tempo e o audacioso projeto "A Caminho da Liderança" dava um sinal de ser concretizado.
Além das Olimpíadas, a emissora de Edir Macedo assinou com a PanAm Sports os direitos exclusivos de transmissão do Pan entre os anos de 2011 a 2023.
O boom da cobertura olímpica da Record foi ciclo do Pan Rio 2007, onde dividiu os direitos com Globo e Band, até as Olimpíadas do Rio 2016, também com Globo e Band.
Depois das Olimpíadas no Brasil, a Record ainda tinha os direitos do Pan de 2019 e 2023, mas os sinais de que a "maionese tava azedando" foram dados no Pan de Toronto, em 2015: enquanto no Pan de Guadalajara-2011 e em Londres, a Record gastou até as tampas com estúdios no IBC, bancadas nos pontos de transmissão e até câmera exclusiva na Vila Olímpica, no Canadá não teve estúdio, não teve bancada, não teve estrutura de Globo. A cobertura teve uma queda considerável de qualidade e isso refletiu na audiência.
Em 2019, tivemos o Pan de Lima e a Record simplesmente deixou a estrutura faraônica de lado e fez quase tudo da sede na Barra Funda.
Em 2020, no auge da pandemia, com todo mundo cortando tudo que era possível, a Record decidiu romper o contrato com a PanAm Sports, deixando a transmissão do Pan deste ano, que vai começar semana que vem. A partir daí, todo mundo perguntava se alguma emissora se interessaria pelo Pan de Santiago, mesmo com todo mundo nem aí pro evento.
O simples fato da emissora que tem os direitos exclusivos da competição largar a mesma num 5° plano refletiu no grande público. A Record fez o Pan ficar mais nichado do que já é. A emissora tá fazendo a mesma coisa com o Paulistão: começou com uma enorme equipe e para os próximos dois anos, vai terceirizar porque acabou com o departamento de esportes.
A Record só fez isso por conta de um projeto de tirar a liderança de audiência da Globo, mas não adianta querer ser uma Globo sem ser a Globo.
Como tudo que envolveu o projeto, tudo ficou de lado porque a audiência, o mercado e os números não corresponderam a expectativa; a Globo pode ignorar algumas competições mas ainda dá audiência e faturamento.
O público da "bolha" que ficou órfão de uma transmissão em TV aberta e fechada, por mais que o calendário deste ano foi muito mal planejado.
A discussão dos direitos de transmissão estarem mais no digital sempre será válida, porque essa colunista defende o maior número de transmissões possível. Mas a tendência é que mais eventos como esse ficarem mais de fora da TV.
A gente deseja sorte pra Cazé TV, que terá a responsabilidade de cobrir essa edição do Pan. E que um dia ele volte para a TV aberta, mesmo sabendo que a tendência não é essa.
*As opiniões aqui emitidas são de total responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a opinião do Dimensão Esportiva.
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