Divulgação/CBF
É duro poder escrever alguma coisa depois da eliminação mais doída da Seleção Brasileira em 26 anos acompanhando o futebol. A eliminação na 1ª fase da Copa do Mundo Feminina me doeu mais que: vice-campeonato em 98, eliminação pela França em 2006, um vice em 2007, o famigerado 7x1 em 2014, as oitavas na França em 2019 e Brasil x Croácia em 2022. Doeu mais porque era possível, dava, era só ganhar da Jamaica, que, como todo mundo falava - viria retrancada.
A gente precisa pontuar a sucessão de erros que nos levou a uma das piores campanhas da Seleção na história das Copas do Mundo Feminina:
1) AS CONVICÇÕES DA TREINADORA
Desde a convocação, muita gente falava das convicções da Pia. Houve a tal renovação tão pedida, mas na hora H, ela não apostou nessas caras novas. Faltaram Bruninha, Gabi Nunes, Duda Sampaio com mais tempo; houve a falta de variação tática, a entrevista que a Erika deu a um podcast mostra muito como a Pia é: "eu ensino aquilo, se vocês não fazem o que eu pedi, vou ficar com cara de bunda e ainda vou culpar vocês na coletiva"; porque continuar no 4-4-2, fazendo com que Tamires e Antônia corram que nem doidas e deixam a Debinha no meio de duas zagueiras e fazer a Ary Borges ser auxiliar da zaga? E ficar com bola alçada no 1º tempo e bola rasteira no 2º tempo? Porque podar nossa maior qualidade, a troca de passe; a demora para fazer as alterações para o all-in, porque o empate nos eliminava, e ainda mexer errado, colocando a Bia no lugar da Ary, sendo que elas poderiam jogar juntas.
2) O NERVOSISMO
Nos dois jogos que valeram alguma coisa, a Seleção Brasileira estava visivelmente tensa, acuada, assustada, dentro e fora de campo, só ver o quanto elas ficaram chocadas na zona mista após a derrota pra França: eram 30 jornalistas brasileiros e que fizeram perguntas mais duras. A Seleção não esperava toda essa pressão e aí o psicológico pegou.
3) A FALTA DE NOÇÃO DA CBF
A gente olha na Internet e vê a seguinte notícia: "CBF admite campanha abaixo do planejado na Copa e promete investimentos para a Olimpíada".
Sabe onde a CBF investiu nessa Copa? Em uma casa para influencers que ninguém nunca ouviu falar pra fazer palhaçada durante os treinos e coletivas da Seleção; mesmo com uma baita estrutura de treinamento lá na Austrália.
Uma entidade que teve que obrigar os clubes a terem times femininos por influência da Conmebol e da FIFA, que faz um campeonato que a tabela é moldada pela principal detentora dos direitos de transmissão (isso quando não apaga o que os outros fizeram antes) e vem com essa cara mal lavada falar de investimento? Como ainda não temos uma coordenação de futebol feminino como a Seleção masculina tem?
4) A FALTA DE CRISTIANE
Se ia mudar alguma coisa, nunca saberemos. Mas a Mamãe Cris, na minha opinião, teria a experiência necessária, junto com a Marta, para acalmar esse time, colocar a bola no chão e buscar o resultado. Era um golzinho! E por mais que a Pia tente fugir, a Cristiane será um fantasma pelo resto da vida dela.
5) RESULTADOS QUE ENGANARAM
Depois da saída das Olimpíadas, o Brasil disputou a She Believes e perdeu pros Estados Unidos, ganhou amistosos do Canadá, perdeu a Finalíssima para a Inglaterra nos pênaltis e venceu os amistosos contra a Alemanha e o Chile. Isso nos deu muitas esperanças, que finalmente teríamos um time competitivo, mas a realidade deu um soco na nossa cara, sem piedade alguma!
E AGORA?
Uma coisa precisa ficar muito bem explicada: ao contrário do desejo das meninas, 90% do público que assistiu o Brasil na Copa já largou a mão e vai ficar 11 meses falando que somos lacradores, que o FutFem é um lixo, que futebol não é coisa pra mulher. O que cabe aos 10% que acompanham a modalidade totalmente a sério, com respeito e responsabiidade, continuar segurando a mão do futebol de mulheres. Continuar cobrando da CBF, das confederações e dos clubes que continuem investindo, divulgando e incentivando a modalidade em todas as suas divisões. Não pode e, se depender de mim, e de muitos que estão empunhando essa bandeira, não deve acabar hoje, dia 2 de agosto de 2023.
Defendo mudanças? Sim e imediatas! Algum técnico que grite, encha o saco, empurre o time e que não fique como um guarda de Londres que não se mexe! E, pra mim, a única opção é Arthur Elias, do Corinthians, com a Cris Gambaré como coordenadora da Seleção, alguém pra comandar o treinador, alguém que conhece a modalidade e como joga o futebol brasileiro e uma dupla que tem um currículo de conquistas invejável.
Agora é juntar os cacos e começar a preparação para as Olimpíadas de Paris, outro título que o futebol feminino brasileiro ainda não tem. Até lá, temos muitas feridas pra lamber.
E eu não vou soltar a mão de ninguém!
*As opiniões aqui emitidas são de total responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a opinião do Dimensão Esportiva.
Comentários