Quando se fala de Fortaleza, muitos gols podem vir na sua cabeça. Romero contra o River, Cassiano, Calebe, Moisés contra o Santos, mas nenhum deles seria possível sem Daniel Frasson, que há 23 anos marcava um gol que mudava a história do Leão do Pici.
O catarinense começou sua carreira no Figueirense, e após uma boa passagem pela Inter de Limeira, recebeu sua grande chance, Palmeiras Parmalat, que montava uma verdadeira seleção, com objetivo de sair da fila.
Mesmo não sendo titular absoluto, Daniel foi peça fundamental na rotação alviverde, inclusive marcando contra o Corinthians. Pela equipe da barra funda, bicampeão paulista, bicampeão brasileiro e vencedor do Torneio Rio São Paulo de 1993.
Depois de uma vencedora passagem pelo Palmeiras, uma boa passagem pelo Internacional, onde também figurou como um bom reserva. Em 1995, uma ida ao Atlético Mineiro, seguindo como um bom coadjuvante e saiu com o titulo mineiro.
Pós 1995, rodou por algumas equipes. Paraná, Juventude, Criciúma, Juventus da Moca até que em 2000, parou no Fortaleza.
Se hoje vemos o Fortaleza como uma equipe de primeira divisão, incomodando alguns grandes e figurando entre os mais fortes do Brasil, a situação há 23 anos atrás era completamente diferente.
Tanto o Fortaleza como o futebol cearense eram bem menos profissionais do que são hoje. A ideia do eixo CEPEBA nem existia na época. Bahia, Vitória, Sport, Naútico e Santa Cruz eram os dominantes na região, as vezes o América de Natal fazia "uma graça", mas em geral os grandes de Bahia e Pernambuco eram quase imbatíveis.
Enquanto o Vitória do final dos anos 1990 era uma das equipes mais fortes do Brasil, com o Bahia muito próximo, Sport prospectando treinador para seleção e os já mencionados Naútico e Santa com times também muito bons, o Fortaleza tinha dificuldades com equipes do nível de Tuna Luso, Botafogo/PB, Sergipe e Tocantinópolis, fora a sucessivas derrotas para times interioranos no próprio campeonato Cearense.
Já não bastasse desempenhos patéticos, faltavam conquistas. Entre 1993 e 1999, o Fortaleza venceu apenas um único turno, o primeiro do campeonato paulista de 1997.
Com o primeiro time realmente competitivo em algum tempo, o Fortaleza teve uma das suas duplas de ataque mais consolidadas de todos os tempos: Frank e Sandro Gaúcho, que conduziram o leão a conquista do primeiro turno de 1997.
Apesar da euforia do titulo, o Fortaleza fez uma segunda parte de campeonato muito ruim e bateu na trave mais uma vez.
Ficou longe de vencer o 2o turno para ser campeão sem necessidade de uma final, e na final empatou o 1o jogo em 0x0 e com o mando de campo da segunda partida, foi derrotado em um placar de 3x2.
O bom time de 1997 foi desfeito pelo então presidente Oswaldo Azim, com direito a Sandro indo por empréstimo para o arquirrival Ceará, e 1998 foi outro fiasco.
1999, um raio de esperança. Com um time que seria base de uma das eras mais dominantes do tricolor no estado, o time de 1999 já contava com nomes como: Maizena, Reginaldo, Cantarelly, Pires, Eron, Clayton Maranhense, a volta de Sandro e dois jovens que fariam história: Dude e Clodoaldo.
Apesar de uma forte equipe, o tricolor não venceu sequer um dos três turnos da competição e foi apenas terceiro colocado. Mesmo assim, um 7x2 em cima do Ceará marcou aquele time, e aquela base ainda daria muitas glorias ao tricolor.
Em 2000, um senhor de nome Jorge Alberto de Carvalho Mota aproveitou aquele time que já era muito bom e trouxe nomes ainda melhores. Rogerinho, Bechara, Daniel Frasson e Vinicius Maravilha chegavam para reforçar a boa base do time de 2000, e contavam também com um jovem volante da base que marcaria era e seria campeão brasileiro pelo Athletico Parananense, o então garoto Erandir.
Comandados por Ferdinando Teixeira, o tricolor não deu chances para ninguém e fez um campeonato quase impecável. Quase, porque deu sopa para o azar e foi eliminado para o Guarani de Juazeiro nos pênaltis, valido pela semifinal do primeiro turno.
No segundo turno, o Fortaleza entrou focado para não repetir os erros, goleou o rival na semifinal e bateu o Itapipoca por 2x1.
Na final decisiva, o Fortaleza chegava em Sobral com a vantagem do empate, sim, em Sobral. Devido ao fato de que o Castelão passava por reformas e o PV era inseguro devido a queda de um alambrado em jogos anteriores, a final foi mandada para o estádio do Junco.
Dizem as lendas urbanas que o presidente do Fortaleza, Jorge Mota, teria reservado todos os quartos de hotel de Sobral e região para forçar o Ceará a vir da capital para o interior do estado, obrigando os alvinegros a percorrerem 245 km em um dia.
A "estratégia" deu errado, e pressionando desde o primeiro minuto, o Ceará tinha facilidade em achar espaços na defesa tricolor, que após uma falha de Denilson, marcou um gol com o lateral João Marcelo.
Sem conseguir contra atacar, o Fortaleza seguiu sendo pressionado durante todo o primeiro tempo e se salvava na competência do goleiro Maizena.
No segundo tempo, não mudaram apenas os lados dos quais os times atacavam ,as também, quem atacava. O Fortaleza se organizou bem para o segundo tempo, pressionava e não deixava o Ceará passar do meio campo. Vinicius teve o gol do titulo e mandou por cima da barra de Jefferson.
Mas, aos 36 minutos, a pressão tricolor surtiu efeito. Em uma bola alçada na área, Dude enche o pé, Jefferson rebate, e sozinho, na frente do gol, Daniel Frasson, estava lá para mandar para o fundo da rede e tirar finalmente o Fortaleza da fila.
Daniel, que chegava com pompas de um jogador de "times do eixo", que teve dificuldade de se adaptar em outros clubes, de repente, aos 33 anos, talvez já pensando no seu fim de carreira, no dia 16 de julho de 2000, marca um dos gols mais importantes da história do Fortaleza, e eterniza seu nome na jornada do clube, onde tem seu desenho em um mural.
O gol do volante, camisa 11, aos 36 do segundo tempo, no estádio do Junco em Sobral, deu inicio a uma das décadas mais vitoriosas de todos os tempos tricolores. Um lance que mudou completamente o rumo de uma equipe.
Após esse gol, Daniel ainda fez parte da lendária jangada atômica de 2001, fez parte do acesso em 2002, e depois de uma rápida passagem pelo Guarani de Juazeiro, retornou ao Alcides Santos para jogar uma série A pelo tricolor e se aposentar como um ídolo do clube.
O famoso gol que deu origem a década de ouro. Gol que marcou o primeiro de oito campeonatos cearenses em 10 anos, que foi o inicio da jangada atômica, equipe que foi até as quartas da Copa do Brasil e de três participações em Série A, com a de 2005 sendo a mais marcante, já que o clube bateu na trave em se classificar para a Sulamericana.
O Fortaleza pós década de ouro passaria por alguns apertos, mas após 2017, voltariam os tempos de glória. Pentacampeão estadual, bicampeão da copa do nordeste, volta a série A, duas idas a Sulamericana e libertadores.
Daniel seguiu a carreira como técnico, chegando a treinar interinamente o Fortaleza e coordenar as categorias de base do clube. Seguiu treinado alguns clubes regionais até que infelizmente, no dia 15 de julho de 2023, Daniel Frasson nós deixava precocemente, aos 56 anos vitima de um câncer.
Seu legado será eterno, e tudo que ele fez pelo futebol e pelo Fortaleza, jamais será esquecido.
No final desse artigo, saio um pouco do jornalista e entro no âmbito de torcedor, e o que tenho a dizer é: Obrigado por tudo Daniel, mesmo que quando você jogou nem ao menos eu era nascido, aquele gol que você fez a mais de 20 anos mudou a história do clube que amo e graças a isso, tenho uma gratidão enorme por você.
Obrigado por tudo Daniel, que você esteja em paz e que Deus tenha te recebido muito bem aí em cima.
Para sempre um guerreiro tricolor. ST!
*As opiniões aqui emitidas são de total responsabilidade dos seus autores, e não necessariamente refletem a opinião do Dimensão Esportiva.
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