Reprodução: @Pele
O fenômeno Messi na MLS será algo histórico. Ainda em auge técnico, é provável que o argentino sobre na liga. Apoiado por Iniesta, Busquets e Jordi Alba, ainda com especulações de Hazard, Suaréz e Sergio Ramos, a equipe da Flórida não deve ter problemas para dominar a liga, mas, ainda sim será muito difícil tornar o "soccer" um esporte muito popular no país yankee.
48 anos antes, um tal Edson Arantes do Nascimento desembarcava em Nova Iorque e com ele, todo o poder de marketing que uma estrela de seu calibre poderia trazer. Estádios sempre cheios, audiências padrão NFL, horários nobres na televisão, a expansão mais que absurda da marca Cosmos, campanhas publicitárias, comercialmente foi benéfico para ambas as partes, mas nem tanto para o futebol.
Apesar de ainda contar com Carlos Alberto Torres, Frazn Beckenbauer e Eusebio, o futebol do final dos anos 70 não prosperou como se imaginava, onde após a aposentadoria dos seus craques o Cosmos fechou as portas, e os EUA só voltaram a ter destaque no cenário internacional na copa de 1994 e com a criação da MLS, em 1996.
O grande ponto é: Não importa o tamanho dos jogadores ou eventos, é muito difícil, diria até impossível, mudar a cultura de um país imperialista e impositor de estilos e comportamentos. Do mesmo jeito que em Los Angeles o Beckham é menor que Magic Johnson, Messi inevitavelmente será menor que Dan Marino e isso é um movimento absolutamente normal quando se estuda os motivos.
Os Estados Unidos são o centro da globalização mundial, logo eles que ditam grande parte das culturas mundiais, então tudo o que vem de fora é visto com certa repulsa, e a repulsa aumenta ainda mais quando o "soccer" é um esporte britânico e aliado ao elevado nacionalismo americano, que impõe que Beisebol, Basquete e Futebol Americano são os únicos esportes que merecem ser consumidos, gerando uma trinca incaivel na maior parte do país.
O fato dos americanos acreditarem que todo o mundo se resume aos Estados Unidos não é só refletido nas produções hollywoodianas, mas também no âmbito esportivo, onde as finais do beisebol são chamadas de "World Séries" e os campeões da NBA e NFL são chamados de campeões mundiais, mesmo sem sequer saírem da América do Norte para competir.
Os esportes favoritos da "américa" serão sempre os inventados por eles. Mesmo com a popularização do futebol por vias de redes sociais, jogos de vídeo game, e a vinda de craques para a MLS, ainda é muito chão para que em algum estado o futebol tome um espaço na trinca de ferro, mesmo que em cidades como Atlanta e Seattle as equipes de futebol ganharam um carinho a mais por serem as melhores da liga, centros de franquias mais consolidadas como Boston, Denver e Dallas ainda veem o futebol como algo nichado.
O nacionalismo exacerbado americano impede não só o desenvolvimento do esporte, como o funcionamento dele. A mania até preocupante de entretenimento toda hora prejudica o desenrolar do espetáculo, pois o que vemos na MLS é um jogo muito focado em velocidade, com certa pobreza tática e com defesas bem discrepantes ao nível dos atacantes com objetivo de gerar mais gols.
A estrutura completamente antagônica do futebol prejudica no alastramento da modalidade, já que o coletivo é um dos pontos principais, existe limitação de substituição, não existe pedido de tempo e dificulta o uso do sistema de Draft, onde força os clubes a montarem categorias de base ou pinçar jogadores em idade de auge nas universidades americanas.
Sistema de franquias é outro ponto alarmante. Nos Estados Unidos é completamente normal uma franquia surgir do nada, mas, no futebol, a identidade de um clube é construída através de décadas, de conquistas, derrotas, jogos históricos, coisa que a cultura local pouco propicia e inclusive entra em choque com o futebol como conhecemos.
A inexistência de rebaixamentos tira uma das coisas mais emocionantes do futebol. Por mais que todos nós preferimos nossos times sempre vencendo, histórias icônicas como o Fluminense de 2009 e a constante alternância de poder que os descensos proporcionam são algo crucial que a MLS não adota.
Mesmo com toda a questão de mídias sociais, marketing e os craques que Lionel planeja trazer, é muito difícil ele mudar a mentalidade do americano sobre o esporte, ainda mais se tratando de algo tão artificial e estrangeiro.
Inclusive, mesmo sendo um dos atletas mais conhecidos do mundo, Messi parece poder andar tranquilo pelas ruas de Miami, frequentando supermercados locais e tirando menos fotos que um Tua Tugovailoa, Tyrek Hill, Aaaron Donald ou Jimmy Butler.
Apesar da vinda de Pelé nos anos 70 ter sido importante para um crescimento da modalidade, e a criação da MLS ter sido crucial para ter algo profissional nos Estados Unidos, é muito difícil que o futebol se torne algo tradicional lá como é no resto do mundo, e nem Messi com seus "parças", Henry, Beckham ou Pirlo serão capazes de mudar isso.
Por isso acredito, se nem Pelé, o maior de todos, foi capaz de criar um sentimento pela modalidade, é muito difícil que Messi, também gigantesco e com mais ferramentas midiáticas consiga. Pois mesmo com a internet a seu favor, o sub 40 do Barcelona que está se formando em Miami dificilmente mudará padrões e no máximo trará mais audiência única e exclusivamente para seus jogos.
Com todo o seu tamanho midiático, ainda sim é muito difícil que Messi seja um Jordan ou um Brady no quesito apelo popular, pode sim ser uma estrela, mas bem longe da importância dos fabricados ídolos americanos, se portando como o maior do quarto ou quinto esporte mais popular de um país.
*As opiniões aqui emitidas, são de total responsabilidade de seus autores, e não necessariamente refletem a opinião do Dimensão Esportiva
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