Todo bom time começa por uma boa defesa, e toda boa defesa começa por um bom goleiro. Esse é um jargão tão antigo quanto o próprio desporto bretão, porém, a equipe do Ceará parece ter problemas com esse "mantra centenário". Apaixonada pelos famosos "goleiros espetáculos" o time passa por mais uma temporada de insegurança embaixo das metas e na frente delas.
O empate contra o ABC, na última quarta-feira (28), ilustra uma enorme quantidade de problemas que rodeiam Porangabussu, contudo, um em especifico incomodou mais do que a maioria. A eterna instabilidade defensiva do alvinegro voltou a ser pauta entre mídia e torcida, afinal, há algum tempo o clube sofre contra equipes mais qualificadas e só encontrou alguma segurança durante a breve passagem de Gustavo Morínigo.
Muitos apontam como causador da vulnerabilidade defensiva a falta de um grande goleiro, e é sabido que desde de João Ricardo, o vovô não conta com uma unanimidade no gol. Com exceção de Everson e do próprio João, o Ceará sempre buscou um perfil de goleiro muito específico e de várias formas até perigoso. O "goleiro espetáculo" não é nada mais nada menos do que os defensores da baliza, que dentro de uma partida fazem uma defesa espetacular e levam um gol incrivelmente defensável, as vezes esses lances ocorrem em sequência.
Esse perfil de goleiro assombra as metas do Clube do Povo há mais de uma década, passando por Diego, Fernando Henrique, Luiz Carlos, Diogo Silva e alguns momentos, até o grande Fernando Prass. Sem ter grande histórico de tranquilidade, a torcida do Ceará clama por um nome confiável, longevo, que faça o simples e que não deixe de ser decisivo quando importante.
Bruno Ferreira, Fernando Miguel e Richard, são todos goleiros que podem ser cruciais para o resultado de uma partida, para o bem ou para o mal. Bruno foi titular por alguns jogos pelo simples fato de que o treinador não tinha mais confiança em Richard, esse que por sua vez foi bancado por oscilar demais na primeira divisão, apesar de uma atuação magistral na final da Copa do Nordeste. Para resolver o problema de inconstância, foi contratado um goleiro de exatas mesmas características, que para titulo de curiosidade, falhou e se consagrou dentro de 90 minutos contra o próprio Ceará.
O ciclo vicioso na qual se encontra o Ceará é ridículo. A eterna roleta de trocar de goleiros porque uma falha é prejudicial, ainda mais quando o substituto também de histórico de erros grotescos, vai fazer exatamente a mesma coisa em algum momento. Contando com a lesão de Fernando Miguel, a equipe tem, atualmente, dois jogadores nada seguros e que podem variar de Neuer para o goleiro do União Fazendinha em menos de 10 minutos.
A meta é um erro crasso, mas que não anula a culpa de Vagner Mancini. Em mais uma temporada sem se adaptar ao elenco que tem em mãos, o treinador insiste em jogar com linha alta tendo zagueiros extremamente lentos e pouco técnicos, fora isso, a inexistência de cobertura advinda de seus volantes e a "difícil" tarefa dos laterais voltarem para marcar, fazem o time ficar altamente exposto, sendo um alvo fácil nos momentos de abafa.
Não são nomes ruins, talvez os melhores dentro dos times que tem como objetivo o acesso, mas que se inseridos em um contexto desorganizado, não irão performar. Não Adianta nada ter o ataque mais eficiente do planeta se seus laterais não recompõem, seus zagueiros não protegem as costas e seu meio é ausente de um cabeça de área; Esse estilo de jogo pode funcionar contra os fraquíssimos Caucaia e Atlético Cearense, mas contra times minimamente competitivos, o "caldo entorna".
O Ceará precisa ser mais inteligente com a bola no pé, não é interessante o time procurar se defender sem a posse e quando tem o domínio dela, o meia Guilherme Castilho chutar a bola do jeito que ela chega no pé, é preciso paciência. O time tem dificuldades em fazer o simples e paga o preço por isso.
A questão física, de momento, não é um problema, uma vez que na exibição contra o ABC, o time conseguiu correr e encurralar o adversário pós o gol, mas essa intensidade não foi vista durante 45 minutos, mostrando um acovardamento desnecessário e uma enorme falta de atitude, coisas que não podem aparecer de um time que entra no campeonato para defender seu titulo e brigar pelo tetra.
Saber se defender é também saber jogar com fatores como: resultado, tempo, e cabeça ao seu favor. Se o Ceará não abre 2x0 até os 30 minutos, a chance dele empatar ou levar uma virada é altíssima, o mesmo vale para se leva um gol próximo aos 40 minutos, o time não tem força para se manter estável e cede chances demais aos seus adversários. Mancini parece não saber virar a chave entre: Ser um time extremamente dominante (Campeonato Cearense) e ser um time que entra para competir (Copa do Nordeste).
Dos últimos cinco jogos, o Ceará foi vazado em três deles, levando um total de seis tentos, um número incrivelmente preocupante e revelador. Não é preciso ser "Gandalf" ou "Dumbledore" para resolver esse problema, basta enxergar as soluções para os problemas, e a maioria está dentro do elenco.
Que tal jogar num bloco um pouco mais baixo? Privilegiando boa parte dos zagueiros e dando mais conforto para o Raí Ramos subir; Falando em Raí Ramos, que tal uma instrução defensiva melhor para ele e Matheus Bahia? ou seria melhor um teste no Paulo Victor? lateral mais defensivo e com um tempo de bola melhor, uma vez que o lateral direito faz boa temporada na fase ofensiva e não merece ser sacado.
Ainda pensando em soluções defensivas, uma melhor cobertura de Richardson no corredor direito do campo cairia bem, uma vez que essa é a zona mais mais usada em contra-ataques. Ainda pensando no lado direito, talvez a promoção do mais físico e versátil Saulo Mineiro, em detrimento ao não tão intenso Facundo Castro, possa ser interessante do ponto de vista tático, uma vez que tecnicamente, o camisa 73 também não vem bem.
Dentro do mesmo grupo de atletas pode-se encontrar inúmeras respostas, a questão é a seguinte: Estão afim de encontra-las? Será que Mancini aceita estar errado por um bem maior? Se o nome não for ele, no mercado, existe alguém com disposição e capacidade de fazer algo melhor, ou ao menos diferente? Esses questionamentos sobre elenco x treinador são outros grandes problemas que rodeiam Carlos de Alencar Pinto a um bom tempo.
A torcida não pode ser alarmista, nem positivamente e muito menos negativamente. Se um jogador que estava indo mal faz uma super partida, torça pela constância no lugar de reclamar ou fazer um fã clube, se vai mal, veja o contexto e novamente torça pela melhora, o clube nesse momento precisa de apoio e a torcida de equilíbrio.
Não é cenário de terra arrasada, apenas de ajustes, uma catástrofe pode ser evitada logo cedo, se os responsáveis tiverem interesse em ajudar. O Ceará é um time que é competitivo, mas falta equilíbrio e segurança para que as criticas repetidas sumam, e esses dois fatores passam muito além de atletas. Que o clube obtenha sucesso nessa temporada e que esses erros pouco a pouco se tornem problemas do passado.
Comandar um clube de massas não é fácil, a cobrança existe e ela é necessária, o que não pode é continuar nesse marasmo, esperando uma estrela cadente para resolver as incertezas que existem. No mercado, um goleiro será suficiente, o resto da para se arrumar em casa, contando é claro com a boa vontade do treinador de perceber obviedades dentro do seu ambiente de trabalho.
Que o Ceará volte aos trilhos e continue sendo motivo de orgulho e alegrias do futebol cearense.
*As opiniões aqui emitidas são de total responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a opinião do Dimensão Esportiva.
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