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Blog do Bosco: Pense grande, Newcastle

Reprodução: @NUFC


A goleada sofrida pelo Newcastle em Londres escancara problemas bem óbvios que ficaram visíveis essa temporada. O desempenho em campo do time é pífio e não consegue justificar uma compra tão cara. Dos ricos, o Newcastle é o mais fraco em todos os setores.


Em 9o colocado da Premier League, os "magpies" fazem uma temporada bem inferior ao que era esperado. Eliminados de maneira precoce na Champions, longe da zona de classificação para qualquer competição internacional, vê na copa da Inglaterra sua única chance de sucesso na temporada, pena que talvez não tenha "bala para trocar" com os times restantes do Big Six.


O mercado foi o principal problema da equipe no ano. Mesmo com muito dinheiro, a equipe encontrou alguns problemas no Fair Play financeiro, uma vez que os valores astronômicos pagos em Barnes, Wood e Livramento não se justificaram. O Newcastle investiu muito dinheiro em apostas e jogadores que não elevavam o patamar do time titular, fora isso, as perdas de Joelinton e Tonalli não ajudaram muito o desenrolar da temporada.


A equipe do Newcastle é carente de boas opções, ainda com mentalidade de meio de tabela e preso a antigos nomes da era "pré sauditas". Obvio que alguns nomes chegaram em boa hora, como Trippier, Bruno Guimarães, Isak e Gordon, fora algumas boas atuações de Almiron, ilustrando que o problema não é falta de talento, é falta de profundidade. Um time tão rico não pode contar com Matt Ritchie, Jacob Murphy, Dan Burn, Emil Krafth e alguns jovens da base como principais opções de banco.


Fora um triste planejamento de elenco, o trabalho de Eddie Howe apresenta algum desgaste. Na partida contra o Arsenal, pudemos observar vários defeitos. Uma escalação errada, leituras equivocadas, esquemas fadados ao erro, falta de competitividade entre outras coisas formaram um retrato de melancolia na equipe, que aliada ao histórico pouco brigador ou muito frágil defensivamente do clube nos últimos jogos, gerou uma série de duvidas na cabeça de quem acompanha esse time.


Indo por partes, a saída de bola mostrou-se inexistente. Durante todo o jogo, Sven Botman soltava a bola toda vez que era pressionado e, quando não perdia a posse, entregava a redonda de qualquer jeito, seja nos pés de Bruno Guimarães, Karius, Livramento ou Goordon, três desses que inclusive merecem atenção individual. A resposta do problema é bem obvia: Trazer o Guimarães para jogar entre os zagueiros, liberar o Livramento e melhorar a construção de jogo, mas em nenhum momento isso foi testado.


Com a posse, Livramento virava zagueiro porém, acuado com a forte marcação do Arsenal, obrigava Gordon, que na fase ofensiva atua como ala esquerdo, a recuar do seu campo para ir até a defesa buscar a bola e ser completamente improdutivo, uma vez que com a bola no pé já era cercado por 3 ou 4 nomes. Novamente, o simples fato de recuar o Bruno Guimarães faria com que a bola ao menos passasse da linha de meio campo e Gordon não ficaria isolado na ponta esquerda o jogo todo.


Quando meio time não era sacrificado para perder a posse com 10 segundos, Kieran Trippier era um "lateral Kamikaze", pegava a bola na defesa e saia em disparada até o fundo do campo. A estratégia, se é que da para chamar assim, não funcionou. Trippier quase todas as vezes perdia a bola para Kiwor e ocasionava contra-ataques bem fáceis de serem organizados, uma vez que a subida desenfreada do lateral ocasionava um buraco enorme no sistema defensivo.


Juntando todos esses problemas, os nomes que sobraram: Isak, Almiron, Longstaff e Miley foram figurantes durante quase todo o primeiro tempo, todos pelo mesmo motivo, a bola não chegava, e quando chegava vinha de brinde um mundo de marcadores na suas costas, transformando o suposto plano ofensivo de Howe em um desastre.


Entendido que o ataque estava bem ruim, vamos para a defesa. Neste setor, podemos observar o mesmo panorama defeituoso. Com um 4 2 3 1 extremamente compactado, o Newcastle não mordia, não incomodava e nem ao menos conseguiu diminuir o ritmo Arsenal, uma vez que os donos da casa trabalhavam a bola sem serem incomodados demoravam mais do que o habitual na construção da jogada pela falta de espaço, mas com alguns minutos e muita paciência já estavam no terço final do campo.


Na última parte do campo era onde o bicho pegava. Tal qual todo coletivo, Botman e Livramento também fizeram uma partida muito ruim na fase defensiva. Durante 20 minutos do primeiro tempo, a estratégia do Arsenal era colocar Bukayo Saka ou Declan Rice entre o buraco enorme criado pela falta de entendimento dos defensores, tendo sempre um ponto exato para entrar na grande área. Quando o buraco foi "fechado", Saka não encontrou dificuldades em se posicionar nas costas do lateral, enquanto Harvetz frequentemente tirava o zagueiro de posição.


Toda a proteção das costas da defesa foi extremamente mal feita, Martinelli e Saka tiveram um jogo extremamente produtivo porque o Newcastle nem pressionava e nem tinha suas linhas suficientemente baixas, criando um caos defensivo e sendo fácil gerar finalizações. Para a surpresa de muitos, o único jogador que foi bem nessa partida foi Loris Karius.


Houve sim uma melhora no segundo tempo, muito mais por causa do Arsenal do que do que uma super leitura de Howe. Os "gunners" baixaram suas linhas, se fecharam mais, trocaram peças, focaram em contra ataques, enquanto o Newcastle se utilizava da tática: Chutão para cima e a bola é de quem pegar. Não precisa ter bola de cristal para perceber que essa "estratégia" foi benéfica apenas ao Arsenal, que matou o jogo e se preocupou ainda mais com defesa quando os módicos 4x0 estavam sendo mostrados no placar.


Em suma: O Newcastle é um time ruim. Não tem peças o suficiente para ser competitivo e o trabalho do seu técnico caiu drasticamente de nível nessa temporada. O time obviamente não precisa de uma reformulação total, a base em si é muito boa, precisa apenas de uma melhor gestão de pessoas, recurso, um mercado mais assertivo, se livrar de jogadores que tem seu ciclo quase encerrado e quem sabe, um novo comando técnico.


O time tem: recurso, torcida e estrutura para ser vencedor, mas a mentalidade dos tempos de Mike Ashley impera nesse time. Não é necessário um Guardiola ou um Mbappé para as coisas começarem a funcionar, apenas um norte, um projeto similar ao Liverpool, de não contratar estrelas mas formar as próprias estrelas, caso não haja êxito, investir na montagem de um time solido e abaixo do radar. Nomes como Ivan Toney, Rafael Leão, Ruben Neves cairiam como uma luva para esse time.


Apesar de menos nome e menos chances de conquistar algo, a equipe britânica tem, por exemplo, melhores condições financeiras que o Barcelona. Então, por que não sondar nomes como Zubeldia ou Kimmich? Que por um bom salário aceitariam o projeto. Por que não um Guirassy? Openda? Zikzee? Nomes existem e o clube tem totais condições de traze-los, só precisa ser mais ousado, ter noção que agora eles tem condições de disputar.


O projeto ainda não tem uma cara, não tem um metodologia, não é levado a sério, parece apenas um rico entediado sem saber como gastar dinheiro. Exemplos de o que fazer com um caminhão de dinheiro não falta, basta apenas alguém ali dentro decidir qual vai ser a face do projeto para que as coisas comecem a andar. Oscilações são normais, mas essa queda de rendimento do Newcastle parece mais não saber onde se pisa do que qualquer outra coisa.


A "nova marca" Newcastle não tem rosto, não tem personalidade, apresenta dificuldades em achar rumo e parece apenas um meio de gastar dinheiro rápido e fácil, não apresentando perspectiva de melhora ou de postura. Problemas simples que poderiam ser resolvidos com alguém experiente encabeçando o projeto, montando uma base, destinando o investimento aos locais certos e dando ao time as glorias que tanto merece.


Dinheiro compra muitas coisas, menos organização. Por isso, o Newcastle precisa ser criativo e arranjar um jeito de ser gerido, um mantra, algo que façam eles se diferenciarem do tão desorganizado Chelsea, precisam se destacar, precisam ter ousadia, pensar grande, ter mais de um plano, definição. Falta saber o que é ser Newcastle, falta construir uma identidade, sem isso, o time jamais sairá desse marasmo de oitava colocação.


Pensar grande é a única alternativa para se manter vivo na liga de futebol mais competitiva do planeta. Após anos de campanhas medianas, o sarrafo subiu, a qualidade e os projetos tem que subir para não ficar para trás, por isso, ideias primeiro tem que surgir para depois serem postas em pratica, por isso cada barco necessita de um rumo e um capitão, duas coisas ausentes em ST James Park.


Por isso, seja novo, seja grande, seja competente, seja Newcastle!


*As opiniões aqui emitidas são de total responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a opinião do Dimensão Esportiva.



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